Conversamos com Luís Araujo (Coletivo Pedal Sonoro - Niterói) sobre a importância da bicicleta em te
O estado do Rio de Janeiro segue em isolamento social devido ao novo Coronavírus, desde a segunda quinzena de março. Com isto, houve um aumento significativo no uso da bicicleta como meio de transporte para quem não pode fazer home office e precisa sair de casa para trabalhar. Evitando assim aglomeração, como transporte público lotado.
Aproveitamos a oportunidade para conversar com Luís Araujo, cinegrafista e integrante do coletivo Pedal Sonoro. Que é composto por ciclistas urbanos, sem fins lucrativos. Integrado por voluntários, que tem como principais objetivos, promover a utilização da bicicleta como meio de transporte. Colaborando para a sustentabilidade e mobilidade urbana das cidades e conscientizando os ciclistas a respeito de seus direitos e deveres.
O coletivo não conta com nenhuma espécie de patrocínio nem vínculo com o poder público ou a iniciativa privada. Todos os recursos necessários para o desenvolvimento das atividades (bicicletas cargueiras, triciclo, pedaladas sonorizadas, materiais informativos/educativos, etc) foram viabilizados por financiamento coletivo, através de doações dos frequentadores, vendas de produtos (camisas, adesivos, etc), parcerias e apoios.
Planeta da Bike - Como surgiu o coletivo Pedal Sonoro e quais são as ações do grupo? . Luís Araujo - O Pedal Sonoro surgiu em 2013 como uma brincadeira entre amigos, entanto, em poucos meses já estávamos agregando dezenas de pessoas em nossas atividades e isso fez com que a gente se organizasse enquanto coletivo. Somos conhecidos pelas bicicletadas musicais, mais nossa prioridade é conscientizar ciclistas sobre direitos e deveres. Na verdade, atuamos em diversas frentes: estamos sempre em contato com os atores políticos (poder público, legislativo e sociedade civil), realizamos campanhas, organizamos dezenas de ações, por mais de um ano mantivemos uma webrádio*, além da nossa presença forte nas redes sociais. * O Planeta da Bike teve por quase um ano e meio o programa semanal Momento Planeta da Bike, na webradio Pedal Sonoro, com diversos convidados e muita música.
Planeta da Bike - A bicicleta é um fenômeno nacional como transporte público e em Niterói não é diferente. Com o aumento de casos de COVID-19 como a população poderá se deslocar em segurança utilizando a bicicleta? . Luís Araujo - No momento a prioridade é seguir as determinações das autoridades e garantir o isolamento social. No entanto, havendo a necessidade de se deslocar pela cidade, a bicicleta me parece uma boa opção, mas é preciso se cuidar e utilizar sempre máscara e, se possível, óculos.
Planeta da Bike - Você acredita que a população de Niterói adotará ainda mais o uso da bicicleta quando a pandemia passar, evitando assim o transporte público?. Luís Araujo - Este poderia seria um legado "positivo" da pandemia, mas para que isso aconteça, o poder público precisa fazer a sua parte. Não basta incentivar a utilização da bicicleta, é preciso adotar medidas efetivas que aumentem a segurança e o conforto de quem pedala. Cidades como Paris e Nova Iorque, apenas para citar alguns exemplos, estão apostando nessa ideia e já estão investindo pesado em infraestrutura, além de repensar a gestão do trânsito para oferecer melhores condições aos ciclistas.
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. Planeta da Bike - Com a pandemia do COVID-19 aumentou muito o serviço de bike delivery. Como está o cenário de Niterói e como os entregadores podem se proteger? . Luís Araujo - Infelizmente, a maioria desses profissionais está entregue à própria sorte. O Pedal Sonoro já realizou algumas ações com essa categoria aqui em Niterói, em que batemos papo e distribuímos cartilhas e ítens de sinalização, como pisca pisca e coletes refletivos. No caso específico da pandemia, as empresas de entregas demoraram muito para adotar medidas em relação à saúde destes profissionais. Somente há algumas semanas, soubemos que algumas dessas empresas tinham disponibilizado álcool em gel e máscara para os entregadores, o que já é alguma coisa, mas não resolve o problema. O problema é, na realidade, a precarização do trabalho e a ausência de vínculo entre estes profissionais e as empresas.
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Planeta da Bike - Com a sua expertise em mobilidade urbana, é possível afirmar que após este momento que estamos vivendo, haverá um aumento de ciclistas e que o mercado da bicicleta sairá fortalecido? . Luís Araujo - Não é possível afirmar isso. O aumento de ciclistas na ruas está diretamente relacionado às melhores condições de infraestrutura cicloviária e do trânsito como um todo, sobretudo no que diz respeito à segurança. Os coletivos, associações e grupos de ciclismo, podem e devem cobrar estas melhorias, mas somente o Estado tem os meios para transformar esta realidade. Quanto ao mercado de bicicletas, assim como os demais serviços, estão sendo duramente impactados pela crise, mas já conseguiram uma pequena vitória, uma vez que foram reconhecidos em muitos estados como um serviço essencial. O futuro dos ciclistas e das bicicletarias pós pandemia depende da nossa capacidade de organização e de exercermos a devida pressão sobre o poder público. Quem está disposto a dedicar um pouquinho do seu tempo para construirmos isso juntos? O Pedal Sonoro segue nessa luta!