Conversamos com Paulo Aguiar (Pedala Manaus) sobre a importância da bicicleta em tempos de pandemia
O ciclista paraense Paulo Aguiar faz parte do Movimento Pedala Manaus, iniciativa da sociedade civil que surgiu espontaneamente em janeiro de 2010. Quando um grupo de estudantes do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) começou a se reunir para pedalar em Manaus com mais segurança.
Desde então, o movimento tem promovido ações e trabalhado para a promoção da bicicleta como meio de transporte, participando de discussões para a formulação de politicas de ciclismo urbano.
O Pedala Manaus é coordenado por um conselho autônomo que é composto por indivíduos da sociedade civil que possuem interesse em estimular o uso da bicicleta como meio de transporte, lazer e esporte na capital do estado do Amazonas, participando voluntariamente da sua construção. É apartidário e suas ações não têm fins lucrativos. Seus integrantes acreditam na capacidade de transformação social, ambiental e econômica que a bicicleta pode trazer para os cidadãos e o ambiente urbano de Manaus. O Amazonas vive crise intensa com a pandemia: no estado, são 6.062 casos confirmados e 501 mortes. Só em Manaus estão 3.658 dos casos e 368 mortes. Por isso conversamos com Paulo Aguiar, Coordenador do Pedala Manaus, para saber como a bicicleta pode ajudar neste momento difícil que o estado atravessa..
Planeta da Bike - A bicicleta é um fenômeno nacional como transporte público e em Manaus não deve ser diferente. Com o aumento de casos de COVID-19 como a população poderá se deslocar em segurança utilizando a bicicleta?
Paulo Aguiar - Infelizmente não. Manaus é uma das cidades mais hostis para se pedalar, com uma malha cicloviária muito pequena, desconectada, vias com velocidades muito altas, sem radares e fiscalização eletrônica. Com a epidemia e a redução de carros nas ruas, os motoristas tornaram-se mais imprudentes aumentado assim riscos e desestimulando o uso da bicicleta. Além disso, o poder público não promoveu e nem promove nenhuma política pública para alavancar o uso da bicicleta na cidade, o que agrava ainda mais o risco.
Planeta da Bike - Você acredita que a população de Manaus adotará ainda mais o uso da bicicleta quando a pandemia passar, evitando assim o transporte público?
Paulo Aguiar - Há uma possibilidade por conta do “empobrecimento” geral das pessoas no pós-COVID, porém por conta dos motivos citados na resposta anterior, isto pode não acontecer. Além disso, o transporte público na cidade é precário e sua utilização já estava sendo trocada pelos aplicativos de transporte.
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Planeta da Bike - Com a pandemia do COVID-19 aumentou muito o serviço de bike delivery. Como está o cenário de Manaus e como os entregadores podem se proteger?
Paulo Aguiar - Sim. Notamos um aumento expressivo na quantidade de entregadores. Antes da epidemia o número não chegava a 60 ciclistas em toda cidade e hoje já ultrapassa 130. Estão tomando alguns cuidados, como uso de máscaras e álcool em gel, mas somente isso.
Planeta da Bike - Ainda em relação aos entregadores de bicicleta, já há algum estudo que aponte o crescimento desta força de trabalho, durante a pandemia?
Paulo Aguiar - Há uma pesquisa do Pedala Manaus iniciada na semana passada para confirmar um crescimento de 100% durante a epidemia.
Planeta da Bike - Com a sua expertise em mobilidade urbana, é possível afirmar que após este momento que estamos vivendo, haverá um aumento de ciclistas e que o mercado da bicicleta sairá fortalecido?
Paulo Aguiar - Sim. Será a hora de valorizar e promover um novo espaço para o ciclismo e bicicleta na sociedade e também nas cidades. As mudanças e problemas climáticos, poluição do ar, superlotação nos transportes públicos e custos com acidentes e mortes no trânsito podem ser rapidamente enfrentados com alternativas concretas para difundir o uso diário da bicicleta para o bem dos cidadãos.