Conversamos com Zé Lobo (Transporte Ativo) sobre a importância da bicicleta em tempos de pandemia
Em tempo de pandemia, causada pelo novo Coronavírus, a bicicleta tem se destacado na paisagem das cidades. Como o vírus tem fácil transmissão em locais cheios. Muitas pessoas tem optado pela bicicleta para deslocamentos, por isso fomos conversar com Zé Lobo, diretor da Associação Transporte Ativo. Organização da Sociedade Civil voltada para qualidade de vida através da utilização de meios de transporte à propulsão humana nos sistemas de trânsito. Planeta da Bike - O uso da bicicleta vem crescendo ao longo dos anos, com o final da pandemia as pessoas ainda estarão receosas de usar transporte público, a bicicleta ocupará este espaço? Zé Lobo - Sim, elas já vem aos poucos ocupando esse espaço, mesmo durante a pandemia e a tendência é que ao final desta, passem a ser muito procuradas, exatamente pelo motivo mencionado na pergunta. Haverá um receio de se usar transporte público e até carros de aplicativos como Uber, 99 e outros, nesses casos pela preocupação com higienização ao invés de apenas com aglomerações, como nos transportes de alta capacidade. Isso não é apenas uma tendência, já está acontecendo na China pós pandemia, onde o uso do automóvel particular, de bicicletas e do caminhar cresceram muito em detrimento do transporte público. Poderia citar também, que além de as oficinas de bicicletas terem sido consideradas como serviços essenciais durante os lockdowns e quarentenas em diversas partes do mundo, permanecendo abertas e do crescimento de seu uso por questões pessoais, muitas cidades já estão pensando nisso como ferramenta para fortalecer seus sistemas de saúde, diminuindo emissões, mantendo as pessoas distantes umas das outras durante os deslocamentos diários e promovendo uma população mais saudável. Bogotá fez isso durante a pandemia e cidades como Milão na Itália e Paris na França, são alguns exemplos de cidades que já estão pensando na ampliação de suas infraestruturas para bicicletas no momento pós quarentenas. Planeta da Bike - Bike share já é uma realidade, como proceder ao usar uma bicicleta compartilhada em segurança durante o isolamento social? Zé Lobo - A maioria das operadoras já tem tomado medidas para higienizar bicicletas e estações, mas podemos dar um incremento pessoal, levando uma capa de selim nossa, que possamos lavar e reutilizar, usando luvas fechadas com dedos, nos mantendo assim totalmente isolados do equipamento. Máscaras e um frasco de álcool gel são também excelentes ideias. Se o sistema tiver a opção de chave ou cartão, de preferência à estes, evitando assim contato com a estação na hora de retirar a bicicleta.
Planeta da Bike - Com a pandemia do COVID-19 aumentou muito o serviço de bike delivery, como os entregadores podem se proteger? Zé Lobo - Além das dicas acima, eles devem tomar cuidados extras durante o contato tanto com os fornecedores quanto com os clientes. Higienizar as mãos excessivamente, a cada entrega, mantendo as bolsas e os celulares limpos. No caso dos que utilizam maquininhas de pagamento, evitar deixar o cliente tocar nelas além da digitação de senha, deixe também que o cliente insira e retire o cartão da máquina, quanto mais cuidado melhor. Esses caras são tão heróis quanto os que trabalham na área da saúde, pois permitem que se fique em casa aguardando a comida ou as compras chegarem, sem precisar sair às ruas, possibilitando o isolamento. E é claro, devem manter a mecânica de suas bicicletas em dia, para evitarem imprevistos que além de atrasar as entregas, podem comprometer o distanciamento desejado entre pessoas.
O mecânico paulista Bruno Uehara está disponibilizando seu curso de mecânica online de forma gratuita para estes profissionais durante o período de quarentena, basta visitar https://uehara.cc/mecanica-basica-de-bicicletas-curso-online-gratuito/ para se cadastrar e acessar o conteúdo.
Planeta da Bike - Ainda em relação aos entregadores de bicicleta, já há algum estudo que aponte o crescimento desta força de trabalho, durante a pandemia? Zé Lobo - Alguns dados já estão sendo levantados por empresas e operadoras para entenderem melhor este fenômeno. Porém existe uma excelente pesquisa realizada pela Aliança Bike e Multiplicidade Mobildade Urbana sobre o assunto, realizada antes da pandemia, que pode ser acessada em http://aliancabike.org.br/pesquisa-de-perfil-dos-entregadores-ciclistas-de-aplicativo/
Planeta da Bike - Com a sua expertise em mobilidade urbana, é possível afirmar que após este momento que estamos vivendo, haverá um aumento de ciclistas e que o mercado da bicicleta sairá fortalecido? Zé Lobo - Sim, já vem aumentando, na Austrália as vendas explodiram devido a necessidade de se fazer exercícios físicos. Em outros locais a busca por transporte barato e seguro contra o vírus, faz a procura por bicicletas já começar a aumentar e consequentemente o número de ciclistas também, muitos em busca de transporte seguro e outros pela economia que a bicicleta vai trazer nesse período economicamente incerto que teremos pela frente. Acredito que além do fortalecimento do mercado normal de bicicletas, teremos um renascimento do mercado de usadas e recondicionadas, que sempre surgem fortes em momentos inesperados e desafiadores como o atual.
Zé Lobo tem forte ligação com a bicicleta há muitos anos. Desde competições de mountain bike (1989 à 1991) até a Membro do Comitê de avaliação de conteúdos para o Velo City, edições Rio de Janeiro, Liubliana – Eslovênia, Dublin - Irlanda, Taipei - Taiwan, Nantes - França, entre outros. Zé também ministrou mais de 250 palestras e treinamentos para Promoção e Sensibilização ao uso de Bicicletas no Ambiente Urbano, em diversas cidades brasileiras e do exterior. Ele também idealizou e coordenou a Pesquisa Perfil do Ciclista Brasileiro 2015. Ao longo dos anos, Zé construiu um longo currículo baseado na melhor utilização da bicicleta nas cidades e por isso fomos conversar com ele para entender melhor o pós-pandemia.